sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A psicologia das metas econômicas

Há um fato interessante em psicologia econômica: um número é melhor do que nenhum. O sucesso das metas de inflação em grande parte se deve ao seu aspecto psicológico. Sabemos que a economia é muito instintiva e sensível à incerteza. Quando apresentamos uma meta para a inflação, mesmo que pouco crível, há um escopo considerável de informações que se quer transmitir. Sinaliza-se algo como "sabemos onde nós vamos chegar" ou "temos o conhecimento suficiente para poder chegar a um número" ou ainda "temos ferramentas para alcançar o valor determinado". Se não temos um número, sinalizamos muitas coisas ruins que podem levar a incerteza: "desconheço onde quero chegar", "não dou importância para tal", "não tenho o controle dessa variável", "as ferramentas existentes não funcionam para alcançar a meta". Por isso, é sempre melhor apresentar um número, mesmo sabendo de suas deficiências e sendo consciente da necessidade de ter de se justificar a posteriori de eventuais desvios. Não apresentar ou fugir ao tema é fomentar a incerteza e a insegurança dos agentes econômicos.
Para fugir às especulações, a autoridade econômica deve dizer que tem um número. Nem sempre ela precisa revelar esse número. A revelação também é uma escolha política, porque o agente enfrenta dia a dia uma miríade de lobistas defendendo um ou outro lado do número. Não somos nós que temos de aguentar a choradeira nos balcões do Ministério da Fazenda, mas é perfeitamente compreensível que as autoridades nem sempre optem por expor seus planos. Em princípio, mais informação é sempre melhor, mas há exceções.
Nas finanças pessoais acontece algo muito parecido. As pessoas precisam de números — simples assim. Sem coordenadas elas se perdem. Quando mentalizam algo como "vou alcançar um milhão" elas tem um norte claro que ajuda em suas decisões diárias de consumo e poupança. Sem esse número, as pequenas decisões do presente ficam mais difíceis de serem feitas, o indivíduo se perde em uma confusão de interesses imediatos e pouco alcança no futuro. O mesmo vale para as regras de onde aplicar o dinheiro. Estratégias de bolso do tipo 1/3 em imóveis, 1/3 em ações e 1/3 em renda fixa, ou 1/2 em ações e 1/2 em renda fixa podem trazer conforto mental ao investidor, que não precisa a cada aplicação ter de refazer seus processos decisórios. A decisão de investir não pode ser sofrida, porque desestimularia novos investimentos. Tem de ser simples, para que o prazer de ver o dinheiro crescer sozinho supere os danos de ver que ele poderia ter crescido mais em outra aplicação.
É claro que as metas tem de ser das variáveis corretas. Em finanças pessoais, muitos miram em metas de rentabilidade, mas se trata de uma variável que os agentes não tem nenhum controle. A alternativa é buscar variáveis que se tem melhor controle. A mensuração de rentabilidades a partir de uma algum benchmark ou rentabilidade de mercado é uma tentativa de trazer mais controle às suas mãos.
O governo enfrenta problemas similares ao estipular suas metas. Ele pode não querer definir uma meta de crescimento econômico, porque não é uma variável que ele tenha controle saudável. Quando você tenta estabelecer metas para algo que não tem controle, a consequência é a ansiedade e a depressão, porque somos punidos e recompensados aleatoriamente, sem vínculo com nossas ações. Por fim, os agentes desconfiam do governo quando ele tenta missões impossíveis, pois sabem que buscará fugir das regras do jogo (roubar, no sentido figurado) para alcançá-las.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ações recomendadas pelo BofA para 2013

Poucos são aqueles que tem o poder de concretizar suas autoprofecias como o BofA. Portanto, merece um olhar mais atento as recomendações para 2013. A diversificação está nos setores e evitam-se small caps. A lista é composta por BVMF3, BRPR3, PCAR4, CSAN3, EMBR3, ITUB4, KLBN4, KROT3, MILS3, SBSP3, SUZB5. A lista é muito bem construída, mas tenho um pé atrás com a continuidade do crescimento da Kroton, porém como há muita diversificação, o risco está bastante diluído e dificilmente a área educacional será assaltada por surpresas. Ademais, a exposição a conjuntura externa é relativamente baixa e as empresas expostas tem forte potencial de reação.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Melhor título do Tesouro Direto para dezembro de 2012

A queda de braço entre o mercado e o COPOM continua. Embora a ata tenha sido explícita no tocante ao fim do ciclo de redução da taxa de juros, até abril de 2014 o mercado futuro aponta para juros abaixo de 7,25. Mesmo com tantas medidas, é difícil acreditar que o país volte a crescer com taxas altas, como o governo quer. É preciso aceitar que 2% a 3% de crescimento é bom. O desafio é imaginar um cenário em que os juros passem a aumentar novamente no governo Dilma. Acho que os juros de janeiro de 2016 e janeiro de 2017, hoje na casa dos 8%, baixarão para a casa dos 7% nos próximos meses. Isso mantém a oportunidade para apostar nos títulos prefixados, como a LTN, com tais prazos. O risco de tal aposta é apenas a argentinização da nossa economia. Mas Dilma escuta o empresariado e pondera. Não é um governo impulsivo na área econômica, como muitos analistas acusam. Os ajustes para reduzir as margens de lucro de alguns setores eram facilmente previsíveis, mesmo porque, durante muito tempo, lucraram às custas do governo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Meta-análise dezembro 2012

A campeã Souza Barros, nossa preferida, continua em sua toada de mercado interno, com AMBV4, CCRO3, NATU3, TBLE3 e LREN3. Minha única objeção é Tractebel, pelos mesmos motivos que rejeito a Coelce — não há garantia que o apetite interventor do governo tenha se encerrado. A cearense COCE5 entrou na carteira da Ativa, junto de LREN3, AUTM3, ITUB4 e VALE5, que busca não escapar demais do Ibovespa. A carteira é um pouco parecida com a da SLW (PETR4, RAPT4, VALE5, BRFS3 e COCE5), mas esta ficará mais colada ao Ibovespa.
A XP segue sui generis, com ITUB4, CTIP3, CSAN3, BRIN3 e PDGR3. Parece menos arriscada do que nos meses anteriores. Também se restringiu ao mercado interno a Bradesco (ABCB4, BVMF3, RADL3, BBRK3 e TOTS3). É estranha a participação da BVMF3, perante ameaça de concorrência e da quebra na Colômbia.
É curiosa a carteira da Planner, toda baseada em contratendência. Se não bastasse o pior desempenho no ano, optou por cinco ações com desempenho negativo no mês anterior (PETR4, EZTC3, OHLB3, FLRY3 e TOTS3). Do lado oposto, a Santander continua com apostas gráficas de tendência, com QUAL3, KROT11, IMCH3, SBSP3 e VALE5. A campeã de ensino universitário também está na carteira da Geração Futuro, ao lado de VALE5, PCAR4, LREN3 e UGPA3.
Por último, vale citar as carteiras equilibradas da Citi (CCRO3, BRFS3, TOTS3, EVEN3 e VALE5) e da Octo (PETR4, JHSF3, BBAS3, DTEX3 e GRND3).
No entanto, custo a entender a sugestão da Petrobras em três carteiras. A probabilidade do governo ser benevolente com os lucros da petrolífera parece cada vez mais remota. De qualquer forma, apareceram mais small e medium caps em dezembro, talvez na luta por vencer benchmarks improváveis.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Melhor título do Tesouro Direto para novembro de 2012

Nada de novo na economia de outubro para novembro de 2012. Faltam poucos dias para a próxima reunião do COPOM, em 27 e 28 de novembro. A dúvida é se a Selic desce já para 7,0% ou se é postergada uma nova queda de um quarto percentual. Embora os economistas apontem para a permanência em 7,25%, os investidores no mercado de juros futuros estão bem divididos: há semanas a taxa pouco oscila em torno de 7,10%, mostrando que a maior parte dos traders acredita em uma queda agora. Minha aposta é de queda. Os votos surpreenderam na última reunião e não há porque imaginar qualquer mudança de tendência dos votantes, tendo em vista que os cenários econômicos são basicamente os mesmos. Assim sendo, para quem quer especular, títulos indexados de prazos curtos, até a próxima eleição, podem ser uma boa pedida, como as LTNs com vencimento em janeiro de 2013 e janeiro de 2014.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

As polêmicas apostas políticas

Em seu blogue (04/11/12), Paul Krugman, um defensor escancarado de Mitt Romney, duvidou da eficiência do mercado de apostas como preditor das eleições. Ele escreve não ser fã da sabedoria das multidões (the wisdom of crowds). E cita duas razões para tal: i) os apostadores usam do mesmo universo de informações dos não-apostadores em suas análises; e ii) alguns apostadores colocam o dinheiro em candidatos que eles querem que ganhe e não em quem eles realmente acham que vão ganhar.
Os argumentos de Krugman são péssimos. A concepção de que o universo de informações é o mesmo, ainda que razoável, é enganadora. Por vários motivos. Os apostadores não escolheram apenas entre Romney e Obama para a presidência do país, mas como vencedor nos Estados específicos. E aí a proximidade da fonte das informações influencia muito. Tendo em vista que as pesquisas nos estados que poderiam mudar de vencedor dão margem para a dúvida, pois a margem de erro abria a possibilidade de vitória dos dois candidatos, elas fornecem apenas a informação de que naquele determinado Estado o vencedor está indefinido. Mas o morador de Nevado ou Iowa tem acesso a informações que um acadêmico novaiorquino leitor de jornais e atento a pesquisas não tem: ele sabe quem está com preguiça de ir votar, quem mudou de opinião, quem é indeciso. Não há dúvida que em nível local o apostador pode controlar mais informações e, com inteligência, fazer bom uso delas.
Outro problema é que as pesquisas de opinião muitas vezes são viesadas a favor de um ou outro candidato, por meio de técnicas de metodologia ou por simples manipulação. Um apostador não tem porque alterar o resultado de suas pesquisas, pois ele está realmente interessado em saber quem irá ganhar e não tem como objetivo influenciar as pessoas. A mentira, para um apostador, não interessa.
Uma terceira questão é quanto ao uso da informação. Um apostador, ao colocar dinheiro de seu próprio bolso, tem muito interesse em explorar todo o universo de informações existentes. Ou seja, ele de fato usa as informações e as busca. Outra pessoa, um jornalista ou um palpiteiro qualquer, ainda que tenha acesso à informação, pode não buscá-la de fato, por falta de interesse em assim fazê-lo. Uma palavra errada de um jornalista que busca predizer algo será facilmente esquecida por seus leitores e o custo de errar uma previsão para um não-apostador é muito baixo. Ao contrário, o apostador tem um custo direto em errar sua previsão e fará de tudo para não fazê-lo. E o apostador não pode se escorar em margens de erro, como fazem as pesquisas. Se ele errar, terá prejuízo.
Por fim, é preciso reconhecer que existem apostadores não profissionais, por lazer, que de fato apostam para quem eles querem que ganhe. É uma forma de tornar mais emocionante a disputa. No caso das eleições, torna-se prazeroso acompanhar o seu candidato e torcer para que ganhe na reta final. Esse comportamento, no entanto, não está presente na maioria dos apostadores. Mesmo se esse tipo de aposta viesada fosse a norma, não deixaria de servir como uma pesquisa de opinião, tendo em vista que revela os votos das massas indiretamente.
Por tudo isso, apostar em política é muito interessante. Mas o apostador acostumado com eventos esportivos deve estar atento às peculiaridades das estatísticas e cotações, tendo em vista que a probabilidade contida nos preços pode sinalizar, com maior segurança, os resultados finais. Em outras palavras, no caso de francos favoritos, as probabilidade corretas do mundo real podem ser mais altas do que as probabilidades do mundo das apostas. Se existe algum viés nas probabilidades das casas de apostas, é sempre em prol dos não favoritos. Isso Krugman não foi capaz de reconhecer, pois seria admitir a influência de sua emoção e sua irracionalidade em sua análise, algo condenável para um economista de sua estirpe.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Carteira recomendada para novembro 2012

A carteira da XP continua, no mínimo, esquisita, e não à toa tem o segundo pior desempenho das dez avaliadas. Constam CTIP3, IMCH3, OHLB3, ITUB4 e CSAN3. De qualquer forma, deve se alinhar mais ao Ibovespa, pois aumentou a liquidez da carteira. Outra carteira com desempenho ruim no ano é a da Planner, com BBDC4, PETR4, VIVT4, PCAR4 e FLRY3. Nenhuma aposta arriscada e uma tentativa de colar no Ibovespa para não ficar ainda pior.
A Souza Barros, nossa preferida dos últimos meses, continua centrando suas apostas no mercado interno: AMBV4, CCRO3, HGTX3, NATU3 e TBLE3. Estranho é somente a presença da Tractebel, em um setor que ainda se encontra em processo de reencontro. Mas a orientação da carteira é sólida. Outra carteira com vistas ao feijão com arroz é a da Bradesco: ABCB4, AEDU3, BRPR3, BVMF3 e VIVT4, sem alterações quanto ao mês anterior. Ainda com foco no mercado interno, a Santander sugere CSAN3, QUAL3, KROT11, LREN3 e MULT3.
As outras corretoras também focalizaram o mercado interno, mas não com tanta ênfase. A carteira menos alinhada é a da Octo: BBDC4, VALE5, CCRO3, GGBR4 e DTEX3. Fortemente ancorada no Ibovespa, com muitas blue chips e uma concentração irrazoável em ferro e aço, além de uma aposta quiçá tardia em construção civil. A Ativa também arriscou introduzir uma ação de banco, ITUB4, em sua carteira, junto a VALE5, KROT11, LREN3 e TECN3. A Vale também está presente na Geração Futuro, ao lado de LREN3, KROT11, WEGE3 e AMBV3, uma carteira bastante parecida com a da Ativa.
A Citi trocou o minério pelo combustível, carregando a carteira com PETR4 e SMTO3, além de SBSP3, CCRO3 e AMBV4. A Petrobras também está na corajosa carteira da SLW, que aposta em retrações, tendo em vista que quatro dos cinco papéis tiveram desempenho negativo no mês anterior: PETR4, RAPT4, CTIP3 e MMXM3. O quinto papel sugerido é LREN3, que vive um bom momento pela lucratividade revelada no último balanço.
É difícil apostar numa reação fantasmagórica da economia mundial e tampouco num governo amantegado saciado de intervenções. Além disso é preciso ser cauteloso com balanços heroicos, como das educacionais. Resta-nos empresas sólidas, baseadas de fato em bons fundamentos. Por isso, ficamos com a carteira da Souza Barros e, como segunda opção, da Citi.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Lan-house dá lucro?

Essa é uma das dúvidas mais populares no ramo dos negócios lucrativos. Vejamos as características do negócio.
O público das lan-houses é formado por pessoas que tem conectividade limitada. Isso pode acontecer por várias razões: podem estar longe de casa, podem não querer ou não poder pagar uma conexão de banda larga, podem estar em viagem, podem não ter computadores funcionando.
São públicos bem distintos, mas nem por isso deixam de estar concentrados. A localização ideal de lan-houses é próxima de viajantes (rodoviárias, aeroportos, hotéis e centro da cidade), de grande circulação de pessoas (próximo a centros comerciais e terminais de ônibus), de repartições públicas (onde as pessoas necessitam acessar computadores para preencher pedidos ou fazer impressões) ou de escolas e faculdades (onde precisam imprimir trabalhos e finalizá-los).
Há tempos o maior público das lan-houses era de jogadores de jogos eletrônicos em rede. Isso mudou, porque as pessoas jogam em suas casas, com conexões boas. Hoje o maior público é de sujeitos que acessam o Facebook para manter atualizadas suas redes sociais.
Os investimentos são baixos: pouco mais de R$ 20.000,00, compostos por doze computadores, uma impressora, um aparelho de ar condicionado, um servidor, uma geladeira para acondicionar bebidas à venda e móveis baratos. Não são necessários móveis sofisticados, tendo em vista que o usuário típico não se importa para esses detalhes. A escolha da lan-house geralmente se dá pela localização (a mais perto de todas) e pela qualidade do serviço (computadores funcionando e conexão rápida) e raramente pela sofisticação do espaço e dos móveis. Um bom ar condicionado é essencial, para manter o cliente por mais tempo no recinto. Cadeiras estofadas e ergonômicas também ajudam a reter os usuários.
O custo mensal de manter uma lan-house é formado por: contabilidade e impostos (R$ 500,00), aluguel (R$ 800,00), salários de dois empregados com encargos (R$ 2.400,00), conexão (R$ 200,00), insumos diversos (R$ 300,00), depreciação (R$ 400,00), custo de oportunidade (R$ 100,00) e outras despesas (R$ 300,00). O custo mensal estimado é de R$ 5.000,00. Supondo que você opere ao menos 25 dias ao mês, isso significa que terá de faturar no mínimo R$ 200,00 por dia. Não é uma tarefa fácil. Cobrando R$ 3,00 por hora, com dez computadores ocupados, são 6 horas e quarenta minutos de ocupação. Ou seja, é muito difícil atingir o ponto limite entre o prejuízo e o lucro.
A maioria das lan-houses que sobrevivem tem de baixar ao máximo o custo mensal. O ponto crítico é o salário dos funcionários. Como pode ser notado, boa parte do faturamento será destinado a tal despesa. O negócio só é viável, na prática, se o próprio dono trabalhar na maior parte do tempo e não depender de funcionários registrados. Caso contrário o negócio precisa ser muito bem estudado, com um estudo de demanda que garanta a boa frequência.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Melhor título público para outubro de 2012

A queda expressiva dos juros futuros em todos os prazos, antes do Copom e referendada pelo Comitê, trouxe ganhos expressivos para quem apostou nos prefixados. Foi uma aposta relativamente arriscada, mais baseada em informações de mercado do que em fundamentos econômicos. O vazamento do voto de uma dos diretores, uma semana antes, referendou a pressão baixista da Selic e calou os economistas. A queda de braço se repete agora, com a Selic para janeiro de 2013 abaixo de 7,10, indicando que boa parte do mercado projeta a taxa a 7,0%. De novo, dissenso com os economistas em uníssono quando a manutenção em 7,25 nas próximas reuniões. É bem possível que o Banco Central esteja seguindo o mercado — tal atitude não é novidade em nossa terra, por mais estranho que possa parecer. Nesse caso, os fundamentos econômicos são pouco úteis para fazer prognósticos e o que conta é a força especulativa de quem está próximo ao poder.
Não há mais almoço grátis nas NTN-Bs. Há quem especule pelo achatamento da curva para os prazos mais dilatados, mas mesmo os juros para janeiro de 2015 já estão abaixo de 8,0. Para além desse ano, a eleição presidencial, mesmo que previsível, pode trazer turbulências que não justificam uma curva tão baixa. Enfim, em minha opinião, para o pequeno investidor, especular não vale o risco. O melhor é se refugiar nas LFTs e dormir sem pesadelos. Quem quiser especular, prefira os títulos mais longos, de vencimento em 2020 em diante, que se valorizam com o prolongamento da crise mundial.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Surpreendendo-se com as correlações

Atualmente, EUR/USD ou AUD/USD são os dois pares preferidos dos traders. Ao menos na Oanda, 27,4% das posições abertas são em EUR/USD e 12,4% em AUD/USD. Esses moedas correspondem a quase 40% do mercado. Pelo menos em tese, no noticiário, são moedas bastante correlacionadas, porque ambas tratam das perspectivas de superação da crise mundial, ainda que sob olhos mais ou menos puxados. Mas na prática a teoria é outra: a correlação entra as moedas está pequena: 0,18 no último ano e incríveis 0,04 nos últimos três meses. Outra moeda com tão baixa correlação com EUR/USD somente USD/JPY, -0,1 em doze meses. Vale lembrar que, naturalmente, por consequência, USD/JPY e AUD/USD também tem baixa correlação, 0,12 em um ano.
Note que a diversificação das aplicações só é de fato conquistada quando se atenta para pares com correlação baixa.
Curiosamente, nas posições abertas, as apostas são exatamente inversas: 59,0% longas em AUD/USD e 59,0% curtas em EUR/USD, mostrando, talvez, uma correlação inversa nos palpites — o que difere das correlações verificadas no passado e da correlação teórica.

Carteira de outubro de 2012

Comecemos pela XP: CTIP3 foi uma ação questionada no primeiro semestre, por rumores da entrada de novos concorrentes no ramo, mas os boatos não se confirmaram e a ação voltou a subir com relativa consistência. SHOW3 é uma aposta arriscada, buscando retomar seu valor anterior ao tropeço no picadeiro. TBLE3 é outra aposta de retração, mas no campo regulatório, porém é de se perguntar se o preço já não se estabilizou. IMCH3 é uma aposta de segunda linha que pode dar certo se a empresa provar que pode aumentar seus lucros. E OHLB3 é a quarta aposta de retração.
A OGX não aparece faz tempo nas carteiras, mas nesse mês compareceu na Octo, junto de VALE5, GGBR4, ITUB4 e TAEE11. Difícil entender porque deixar mineralizada a carteira e esquecer de tirar o banco, além de dar uma nova chance para a transmissão elétrica. Carteira parecida com a da Geração Futuro, com um banco (BBAS3), duas de commodities (VALE5 e UGPA3), uma metal mecânica exportadora, WEGE3, e outra dependente dos bancos (VLID3).
Um banco também está presente na carteira da Planner: BBDC4, OHLB3, VIVT4, PETR4 e FLRY3. Parece uma carteira equilibrada, mas talvez tenha vindo com muito atraso e não vai reverter o péssimo desempenho ao longo do ano.
A Bradesco foi muito bem em setembro, mas mudou por completo sua carteira, apostando em bons momentos técnicos de BVMF3, AEDU3 e BRPR3, na retração de VIVT4 e na migração de ações financeiras para um banco médio ABCB4. Parece técnica demais a carteira, mas pode dar certo.
A carteira da Ativa continua simpática e recorreu ao mundo técnico para melhorar seu desempenho: JBSS3, KROT11, BRPR3 e VALE5, além de TECN3, um achado fundamentalista, empresa de bons lucros que ainda não está cara.
Kroton continua na carteira da Santander, mesmo com múltiplos salgados. Mas essa não é uma preocupação da corretora, ao adicionar RAPT4, RENT3 e CCRO3. Múltiplos razoáveis só em SBSP3.
A Citi foi de PETR4, AMBV4, SBSP3, BRPR3 e GGBR4, uma carteira pouco descolada do Ibovespa. A SLW decidiu fugir do Ibovespa e centrar o foco no mercado interno, com CIEL3, ALLL3, CPLE6 e PCAR4, além de MMXM3.
Por fim a Souza Barros, sempre a nossa favorita, não revolucionou sua carteira, que continuou com BRML3, CCRO3, HGTX3 e RADL3, e pôs cerveja na mesa com AMBV4.


domingo, 30 de setembro de 2012

Guru trading e copy trading funcionam?

As corretoras Etoro e Avafx introduziram uma nova ferramenta para a operação de Forex: a possibilidade de você simplesmente seguir os trades de outro trader. A ideia é boa e possivelmente irá se expandir ao longo da indústria de risco e de derivativos, das apostas esportivas aos mercados acionários. Em um mundo de informação, os vencedores tem de ser transparentes em suas estratégias e devem provar seus ganhos. E tal atitude permite que os famosos angariem seguidores.
Em tese a ferramente é muito boa, pois possibilita aumentar os lucros para quem se concentra em aprender a identificar quem realmente ganha com o jogo. Mas a matemática é complexa. Imagine alguém que tenha múltiplas contas abertas com nomes diferentes. Por certo, uma delas terá um excelente desempenho, unicamente em razão da sorte.
Só podemos ter certeza de que alguém é um bom trader a partir da análise de um horizonte temporal longo. As regras de como ganhar dinheiro mudam muito rapidamente. Uma estratégia vencedora neste ano pode não valer nada no ano que vem. Traders de sucesso sabem, com inteligência, mudar suas estratégias e não ficam presos a algoritmos passados. Então, é preciso ver o desempenho do trader durante vários anos.
Ademais, é necessário verificar o percentual de trades bem sucedidos a partir de uma amostra realmente significativa. No mínimo um histórico de trezentos trades para quem faz operações breves. Também note se há diversificação suficiente dos pares investidos, caso contrário o sucesso das operações breves podem ter ocorrido unicamente por causa de uma tendência de longo prazo favorável que teve impacto nas operações de day-trade. Se o trader de sucesso for, de fato, um especialista em algum par de moeda, ele precisará provar isso com uma amplitude de tempo muito grande — no mínimo dez anos de operação.
Enfim, com tantos dados necessários para identificar um bom trader e com tantos dados ruins disponíveis de pessoas que querem simular serem bons traders, serão precisos vários filtros e muita inteligência e esforço para dominar a arte do guru trading e do copy trading. Talvez seja mais fácil continuar estudando os pares de moedas, como sempre.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Carteira para setembro 2012

Já estamos no dia 12/09/12, muito já aconteceu, mas ainda vale a pena compararmos as carteiras. A Ativa foi de BRPR3, CCRO3, BRAP4, MGLU3 e ODPV3. Carteira parecida com a da Souza Barros, com CCRO3, HGTX3, ODPV3, RADL3 e BRML3. Essas são, quase sempre, minhas carteiras preferidas.
A Citi, que muitas vezes influencia de verdade o mercado, sugeriu TIMP3, AMBV4, CSAN3, CCRO3 e EMBR3. Acho uma carteira mais frágil, porque os setores são muito regulados, exceto pela cervejaria, que está cara. Esta também está presente na carteira da Octo, que acrescentou GGBR4, ITUB4, RADL3 e VALE5. Pode levar sorte com tanto ferro e aço, mas não é prudente.
A SLW se ancorou no Ibovespa, com PETR4, VALE5, TRPL4, SUZB5 e RAPT4, talvez para desanuviar o mal desempenho do mês anterior, mas a má performance de TRPL4 vai destruir o ganho.
A Planner diminuiu a exposição externa, com TIMP3, AMAR3, OHLB3, CRUZ3 e DTEX3, exatamente no mês que o otimismo mundial se recobra — assim a carteira ficou excessivamente interna. Santander continua com sua aposta em estrelas somente: KROT11, CCRO3, RENT3, RAPT4 e GGBR4. Pode dar certo, porque há muita sustentação dos papéis nesse ano na nossa bolsa.
Por fim temos a Bradesco (BBAS3, BRML3, RADL3, OIBR4 e PCAR4), a Geração Futuro (CPLE6, BBAS3, ITUB4, GOAU4 e WEGE3) e a XP (UGPA3, VALE3, CTIP3, OIBR4 e IMCH3). Muitos bancos na Geração Futuro sem justificativa plausível. Uma ação sem liquidez na XP. E escolhas por telefônicas mesmo sob o olhar desconfiado do regulador central.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Melhor título público para setembro de 2012

Com a perspectiva de que a queda nos juros tenha se encerrado, o ideal é fugir dos títulos prefixados (LTN e NTN-F) e dos indexados (NTN-C e NTN-B) de curto prazo, pois pode estar embutido no preço desses títulos uma redução nos juros que não se realize. Para títulos de curto prazo o melhor é cautela e a escolha da LFT.
Para quem prefere os títulos de longo prazo ou quer especular, creio que ainda há espaço para se ganhar com as NTN-C, apostando numa apreciação do câmbio no curto prazo, o que transmitiria seus efeitos para o IGP-M. As NTN-Bs talvez continuem sendo um bom negócio, principalmente se houver consolidação da premissa de que o crescimento futuro no Brasil será baixo e estacionado.

Consenso no curto prazo e dissenso no médio prazo?

O contrato de janeiro de 2013 anda sonolento e pouco se move da faixa de 7,25 a 7,30. Minha opinião eu já emiti e ainda não mudei — acho que a Selic não cai dos 7,50 tão cedo. Mas o mercado está dividido, mesmo com as previsões cada vez mais decepcionantes do PIB e da inflação. Vamos ver quem acerta.
A ação está se deslocando cada vez mais para o médio prazo. Os contratos de janeiro de 2015, 2016 e 2017 tem aumentado o volume de negócios contratados. E as opiniões do mercado, nesse prazo, são as mais diversas — vão de 7,0 a 9,5%. O contrato de janeiro de 2017 ainda está acima de 9,0, mas o de 2016 já se conformou com a faixa dos 8.

Apostando em jogos feios e ruins

Domingo, fim de feriado de sete de setembro. Santos x São Paulo, na Vila Belmiro. Condições ideais para um jogo ruim: os dois times desfalcados de seus astros, convocados para a seleção brasileira, e de outros machucados. Público pequeno e sonolento. Um Santos que não sabe o que quer do campeonato e parece não correr nenhum risco e não se aproximar de nenhum prêmio. Um São Paulo que vê o título nacional desfocado e distante. Se tudo isso não bastasse, o tricolor entrou com três zagueiros, enquanto o alvinegro reforçou seus volantes. Por último um juiz honesto, que não distribuiu cartões amarelos com profusão ou marcou pênaltis inexistentes. Tínhamos todos os ingredientes para um jogo péssimo.
E o jogo não decepcionou aqueles que apostaram num zero a zero. O primeiro escanteio do jogo foi no meio do segundo tempo. Chutes ao gol não passaram de cinco para cada lado. A única emoção veio no final, com um tarjeta vermelha para o segundo volante são paulino, mas nem isso ajudou o Santos de fato.

O uso de múltiplas casas de apostas

Os argumentos em prol de operar com várias casas de apostas ao mesmo tempo são notórios e fáceis de serem notados. O risco de você levar um calote diminui sensivelmente, conforme você amplia sua atuação. Os bônus são coletados de modo cirúrgico, aproveitando as vantagens que cada casa oferece em jogos especiais, apostas grátis, benefícios de depósito e pontos de fidelidade. Por último, você não fica dependente das cotações de uma única casa, mas pode comparar preços e escolher pelo mais barato.
Os argumentos contrários, no entanto, raramente são perfilados. É muito trabalhoso e consome tempo operar com várias casas em simultâneo. É exaustivo o trabalho de comparar as cotações, ainda mais tendo em vista que na grande maioria das vezes as diferenças são constantes — sites com cotações melhores costumam ser melhores quase sempre.
A busca específica da cotação melhor para um determinado jogo — ao invés da busca genérica de cotações melhores na maioria dos jogos — só é justificável se o volume apostado for muito grande. Uma aposta superior a R$ 1.000,00, se você conseguir uma cotação de 1% melhor, significa um aumento de R$ 10,00 ou mais de lucro, o que pode justificar o tempo dispendido de escanear a cotação mais alta. Valores menores que esses não justificam o trabalho.
Os bônus que os sites fornecem também não representam bons argumentos para o uso de várias casas. Costumam representar pequena quantia, mas exigem um processo trabalhoso de acessar a conta, atualizá-la, efetuar os depósitos e atender toda a burocracia para a retirada dos lucros. Afora o trabalho de ter de acompanhar a casa para esperar, ao longo do ano, pelas promoções.
A justificativa melhor para se operar com várias casas é, de fato, a redução de riscos. Mas mesmo assim, medidas simples como fazer retiradas frequentes e não deixar um volume grande de recursos parados podem ser mais eficientes.
Enfim, em minha opinião, parece que operar com várias casas é uma atividade especializada de apostadores de arbitragem ou escalpelamento, mas não para puncters profissionais ou de fim de semana.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Rumos da Selic: Copom em 29/08/2012

Antes do comunicado, o mercado de juros futuros fechou em 7,38 para outubro de 2012 e em 7,21 para janeiro de 2013. Disse o comunicado que, se forem necessário novos ajustes, deverão ser conduzidos com máxima parcimônia. Parece nítido que o termo "máxima" só foi escrito com o intuito de realçar a normal parcimônia dos votantes. E também fica claro que, salvo mudanças drásticas na economia, não haverá corte, na reunião próxima, em 9 e 10 de outubro, e na última de 2012, em 27 e 28 de novembro. Talvez a redução só venha em 15 e 16 de janeiro de 2013 ou nem isso. Por certo, o IGP-M apimentado (7,72% nos últimos meses e 1,43% em agosto fruto de um IPA de 1,99%) contribuiu pra decisão. O mercado abriu hoje em balanço, mas deve apontar para o alto, até onde eu entendo, após digerir os dados.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Tilt e o desamparo aprendido

O desamparo aprendido (learned helplessness) é um conceito introduzido por Seligman, em 1967, para explicar a gênese do processo depressivo em ratos. Em geral, diante de um estímulo aversivo, os animais buscam a fuga (se afastam daquilo que provocou a dor, por exemplo) ou de esquiva (evitam se aproximar da fonte de estímulos ruins). Porém, diante de estímulos aversivos vindos de eventos não contingentes e incontroláveis (como choques imprevistos nas patas), o animal não tem como fugir ou se esquivar.
Ele não encontra uma boa ação para fugir dos estímulos e entra em um quadro chamado de desamparo aprendido, que é equivalente à depressão nos humanos. O indivíduo não responde mais a estímulos, não age em autoajuda, porque percebe que não tem controle sobre os resultados. Ficar parado economiza energia, que seria desperdiçada na busca infrutífera de soluções para escapar dos estímulos aversivos. Mesmo quando as chances de evitar o estímulo passam a existir, por vezes o indivíduo é incapaz de recobrar sua ação de fuga ou esquiva.
Há muitos estudos sobre o assunto que são de interesse para quem gosta do tema, mas que fogem ao escopo desse texto. O importante é reter os aspectos fundamentais para as apostas esportivas. Muitas derrotas consecutivas trazem a percepção de que não é possível evitá-las e que não temos o controle sobre os jogos. O pessimismo que as derrotas trazem às vezes é generalizado para o restante da vida — a pessoa se acha fracassada, torna-se negativa e introspectiva. A pessoa passa a duvidar que pode conseguir resolver as tarefas (as apostas) com sucesso.
Alguns autores argumentam que o estilo explanatório de cada um afeta o impacto do desamparo aprendido na vida das pessoas. Dizem que pessoas mais otimistas superam com mais facilidade a sucessão de estímulos aversivos incontroláveis. Faz sentido, porque evitam ficar mais tempo prostradas do que o período ótimo. Lembremos que a função evolutiva do desamparo aprendido é fazer o indivíduo economizar energia e interromper o que está fazendo para uma reflexão maior sobre o sistema em que vive, em um processo de introspecção, ampliação cognitiva e pensamento crítico, levado a cabo pelo córtex pré-frontal. Mas há limites para tal, porque não é ótimo que o humano passe muito tempo nesse estado, como muitas vezes acontece.
Há alguns truques para evitar que você entre em um quadro de desamparo aprendido. Em primeiro, é preciso buscar explicações mais realistas para os acontecimentos, sem generalizar para a vida, para o mundo e para o indivíduo — não dizer que o mundo é assim mesmo, que só acontece consigo, que se está sendo perseguido, que é um azar inacreditável e impossível de acontecer normalmente. Se você faz 300 apostas por ano, é muito provável que enfrente sequências de cinco, seis, sete ou oito derrotas seguidas com alguma periodicidade, mesmo tendo em vista que esses resultados foram frutos de eventos implausíveis em seu julgamento (chutes na trave, expulsões, pênaltis, quase gols, frangos, etc.).
Em segundo, diante de cada evento negativo, é preciso conscientemente relembrar dos eventos positivos que aconteceram no passado. Você também passou por sequências de vitórias, já teve sorte algumas vezes, ainda que não tenha atribuído os bons resultados à falta de controle e previsibilidade. Lembre-se que a vida alterna prêmios e punições. Isso é normal.
Em terceiro, evite pensar demais quando ocorrem as derrotas. Os jogadores de poker conhecem bem o processo: aquele que pratica o overthinking para justificar suas jogadas erradas tende a ter um desempenho pior, porque são incapazes de ver os lances com a simplicidade que merecem. Se você pensar demais, é provável que chafurde em elucubrações pessimistas a respeito da vida, do mundo e de sua capacidade (do tipo sou um lixo, a vida é sacana, o mundo é injusto e assim por diante).
Em quarto, busque uma aposta fácil (cotações inferiores a 1.05, que representam uma probabilidade de vitória de mais de 95%) para interromper a sequência ruim. Não pense de forma crítica, questionando a validade dessa aposta fácil para provar suas competências. Apenas aceite que você venceu a aposta e não está mais naquela sequência fatídica de derrotas.
Praticando essas soluções você evitara adentrar no quadro de desamparo aprendido. A principal consequência no mundo das apostas desse quadro é fazê-lo tiltar — você desiste do jogo, faz apostas insanas com o intuito de ganhar ou perder tudo, buscando, assim, remover o estímulo aversivo (o sentimento de impotência diante das derrotas) a qualquer custo. Você só evita o tilt sabendo lidar com os vários passos que conduzem a ele. Se você esperar sentir o tilt para saber como lidá-lo, então será muito tarde e ele te dominará. O tilt é o tipo de inimigo que você não pode ver na frente e que você não pode deixar ele se aproximar. E, para tal, o treinamento é muito anterior, reforçando a mente e a resiliência. Você não se prepara para vencer a briga com tilt, mas treina para não conhecê-lo.

O que as apostas nos ensinam para a vida

Pensamos muito em como ganhar, em como prever o futuro, mas não temos bola de cristal, tampouco a onisciência divina. Somos humanos, erramos, aprendemos lentamente, caímos, nos reerguemos, lutamos contra inimigos íntimos e desconhecidos, buscamos um final feliz ou mais uma vitória suada. Não queremos a paz derradeira, mas a ação contínua, o chute ao gol, o saque, a bola ao cesto, até o último ponto ou apito.
Para nos tornarmos bons apostadores, temos de ser humanos melhores, controlados, sábios, que espreitam o adversário para agir na hora certa, que formulam ordem em meio ao caos, que promulgam leis para evitar a anomia, que acham o previsível em meio ao aleatório.
A vida é como um jogo. Podemos vê-la como uma sucessão de aleatoriedades incontroláveis, por um lado, ou como uma sequência de fatos previsíveis. Não podemos focar naquilo que não está sob nosso controle, mas nem acreditar que temos o leme para nosso destino. Erramos, para aprender. Vencemos e perdemos, para que ao final dos tempos, tenhamos a certeza de que a disputa valeu a pena.
Uma aposta perdida na vida — um negócio mal feito, uma profissão inadequada, um parceiro amoroso ruim, uma doença de cura difícil — não pode fazer nos curvar. É preciso esquecer a perda, perdoar, relevar, para o nosso próprio bem, para retomarmos nosso desempenho ótimo na próxima aposta. Devemos aprender a crescer sob pressão e nos alimentarmos das cinzas das derrotas. E saber olhar para o horizonte com o deslumbramento de quem vê a sublime paisagem pela primeira vez, mas com a sabedoria de quem conhece cada trilha e cada pegada.
Não fazemos all-in na vida nem colocamos todo nosso sangue em uma única empreitada. Não podemos arriscar tudo em um único jogo. Devemos estar preparados para um campeonato longo de várias partidas e não arriscarmos tudo num mata-mata decisivo. A vida também é longa, em princípio, e seu desempenho estará registrado em nossa conta, como todos seus créditos e débitos. Todas as partidas devem ser levadas a sério, com comprometimento de quem faz a final do campeonato.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A diferença entre o apostador profissional e o amador

Sempre me pergunto o que significa dizer que se é um apostador profissional. Acho que as diferenças são muitas. Vamos enumerá-las:
1- O apostador profissional é aquele que tem um histórico de temporadas seguidas com lucro. Creio que são necessários ao menos cinco anos de lucros contínuos. Um profissional é aquele que trabalha e aufere ganhos de seu trabalho. Se você, em um ano, tem prejuízo, provavelmente não é um profissional, porque trabalhou para perder dinheiro. O amador é diferente, pois alterna temporadas com lucro e com prejuízo, dependendo das promoções, de apostas acumuladas acertadas atípicas e de uma ou outra aposta com volume apostado e acertado maior.
2- O apostador profissional é aquele que não aposta por emoções, mas por trabalho — ainda que seu trabalho traga emoções, é diferente de buscar uma emoção que dá trabalho. Dessa forma, ele não é um apostador de fim de semana, nem um telespectador de sofá, pipoca e cerveja. Ele não escolhe as apostas pelo conforto, lazer ou emoção, mas sim pelo retorno, pela lucratividade.
3- O apostador profissional tem disciplina e planejamento. Ele cria regras de conduta, horários de operação, normas para gerenciar seu bankroll, processos de busca de informações, estratégias para obtenção do ponto ótimo de risco e retorno. O apostador amador é preguiçoso. Aposta quando dá vontade. Ao invés de buscar informações, recebe-as de modo passivo, de mesas redondas televisivas e narradores esportivos. Tem estratégias limitadas para equacionar o risco e retorno e de vez em quando aposta tudo o que tem. Define espontaneamente a quantidade apostada. Fica preso emocionalmente aos resultados prévios.
4- O apostador profissional gira um volume grande de recursos. Uma regra de corte adequada é acima de R$ 1 milhão por ano de apostas. Nesse valor, se o apostador tiver um ROI de 3%, terá ganhos de R$ 30 mil no ano. Apostando 250 vezes na temporada, terá um valor médio de aposta de R$ 4 mil por jogo e um bankroll de R$ 20 a 40 mil. O apostador amador também aposta muitas vezes, mas os volumes totais são muito menores. Apostas típicas de amadores oscilam entre R$ 30,00 e 50,00 — guardam uma equivalência com metade dos preços dos ingressos. Tomando por hipótese que a aposta média é R$ 40,00, após apostar 250 vezes, em jogos bem selecionados, ter-se-á um volume girado de R$ 10 mil. Assumindo um ROI de 3% o lucro é de apenas R$ 300,00 no ano, pouco menos de trinta reais por mês, o que é insuficiente para considerar a pessoa um profissional.
Pode parecer chique ser considerado um profissional, mas raramente se leva em conta os sacrifícios que uma pessoa tem de fazer para ser um deles. Ser amador, por outro lado, pode ser muito agradável, como em uma divertida brincadeira e não como um em trabalho estafante.

Overbetting em apostas esportivas

Overbetting é um conceito conhecido entre os jogadores de poker, assim como overtrading é familiar para os operadores do mercado financeiro. No primeiro caso, o significado é uma aposta de tamanho excessivo, que reduz o lucro potencial de uma jogada, principalmente porque afugenta adversários e não permite extrair o máximo de fichas deles. Não é essa a analogia que queremos fazer com as apostas esportivas.
A analogia correta é o overtrading. Nesse caso, sabe-se que no longo prazo pessoas que realizam menos transações tem um lucro maior do que aquelas que realizam transações demais. O overtrading é comum entre homens autoconfiantes, com autoestima muito alta. Essas pessoas acham que conseguirão acertar os picos e os vales, as máximas e as mínimas do mercado, mas na realidade acabam tendo um desempenho pior do que aqueles que simplesmente compram ações e ficam casados com seus ativos. Como no longo prazo as ações sobem, aquele que ficou sossegado, sem pular de galho em galho, acaba tendo um desempenho melhor. Ademais, os irrequietos têm custos de transação mais altos, que prejudicam suas rentabilidades no longo prazo.
Nas apostas esportivas não existe lucro certo no longo prazo. Não adianta você ficar com o dinheiro parado. Você só ganhará se apostar e o seu ganho vem em um ponto isolado no tempo — é diferente de ativos que te permitem ganhos contínuos, de renda ou de dividendos. Mas apostar demais tem seu preço. Pelo menos em tese, suas apostas devem se concentrar nas melhores opções, naquelas em que as cotações mais fogem da realidade que você postula. A maximização do lucro viria de uma única aposta cuja cotação mais desvia da realidade potencial. Mas como existe risco, você precisa diversificar suas apostas. Porém a diversificação excessiva diminui o retorno. O ponto ótimo é aquele que atende os seus critérios de risco e retorno. Então, a pessoa que faz overbetting reduz o risco mas também reduz o retorno.
Para saber se você está em uma condição de overbetting o ideal é criar suas próprias estatísticas e parâmetros e se fiar neles. Por exemplo, de cada cinco jogos assistidos, um apostado, em média (haverão sequências de jogos bons de apostar e sequências de jogos que se deve ficar de fora). Ou de cada rodada de um campeonato nacional, com dez jogos, um apostado, somente.
O segredo é a seleção correta das apostas. Isso é óbvio, mas a prática leva anos até ser consolidada, porque a tendência, natural (digamos assim), é deixarmos as emoções influenciarem na quantidade ótima de apostas.

Promoções de apostas esportivas

Não existem mais promoções fáceis no mundo das apostas esportivas. Há anos atrás o Sportingbet fazia boas promoções, sem grandes requisitos para esquentar os bônus, apenas a rolagem de três vezes a soma do valor depositado e do prêmio. Mas esse tempo se foi. O padrão da indústria é predefinir o tipo de aposta que é usado para rolagem. No Bet365, por exemplo, não podem ser jogos com cotações menores do que 1.50, não valem apostas de mais ou menos gols ou de handicap asiático.
O Sportingbet tem insistido em seu sistema de prêmios por acúmulo de pontos, mas dado o alto preço das comissões, o sistema não é vantajoso, após a comparação com as cotações normais dos outros sites. Para alguns jogos são oferecidos pontos em dobro ou em triplo. Nesse caso, valem a pena. Bônus específicos por jogos importantes também são concedidos pelo Bet365. Mas será que é uma boa ideia se comprometer com a aposta somente porque há premiações envolvidas? É preciso calcular com precisão os bônus concedidos. Lembre-se que, ao entrar nesse tipo de promoção, você acaba apostando num jogo que talvez você não apostaria. Isso conduz ao aumento da frequência ótima das apostas. A disciplina de só entrar nos jogos que realmente valem a pena serem apostados pode ir por água abaixo. E o objetivo dos promotores é esse mesmo: aumentar a frequência de apostas, principalmente em jogos mais importantes, como finais de competições mata-mata ou partidas decisivas de campeonato, porque nesses casos há mais emoção envolvida e maior a chance de que sua aposta seja reforçada pelos prêmios oferecidos. Essas promoções servem para que você vicie nas apostas, ao associar jogos emocionantes com prêmios em dinheiro — muitas vezes sempre positivos, porque as perdas são devolvidas.
Outro problema das promoções é que elas alteram o tipo de aposta ótima que você faria. Ao não poder pensar em outras possibilidades, como mais ou menos gols ou cotações inferiores, você aumenta a aleatoriedade dos resultados. Você acaba apostando justamente nas opções que dependem mais da aleatoriedade e menos da observação e estudo consistentes. Ou seja, você acaba por desaprender os melhores padrões de jogo.
Um terceiro problema é que o valor da aposta também é modelado pelas promoções. Você demora meses para achar o valor ótimo de sua aposta, aquele que te deixa mais confortável e que te permite conseguir boas sequências de vitórias e possibilita recuperar-se das derrotas sem traumas. De repente você entra em uma promoção que o melhor valor a ser apostado não é compatível com o valor que você aprendeu como o ótimo. A consequência é a de você destruir os seus modelos e esquemas e torná-los aleatórios, motivados pela emoção, dificultando agir com racionalidade com vistas a aumentar seus lucros.

Aprenda com seus erros

Diz o ditado que errar uma vez é humano, mas errar duas vezes é burrice. É fácil nos sentirmos burros nas apostas esportivas, porque a repetição, que parece sem fim, dos mesmos erros, acontece muito frequentemente. Quando há emoções envolvidas, a repetição dos erros sempre vem à tona.
Abaixo, arrolo alguns erros que venho repetindo há muito tempo:
1- Aposto em jogos importantes, porque quero assisti-los com uma pitada de emoção, e não porque representam uma boa oportunidade de ganhos. Se tiver transmissão simultânea de quatro jogos, acabo optando pelo jogo de mais qualidade, com times maiores, ao invés de acompanhar o jogo com mais potencial de lucros. A confusão entre lazer e trabalho tem seu preço e me prejudica continuamente, além de baixar minha autoestima, tendo em vista que passo a duvidar de minha capacidade de autocontrole.
2- Não planejo minhas apostas. O ideal seria planejar ao menos um dia antes, verificando a programação dos esportes para o dia seguinte, a mudança das cotações e as notícias. Fico com preguiça de cumprir com essa etapa mínima de planejamento e adoro apostar espontaneamente, caçando oportunidades adhoc, sem uma avaliação prévia do que está acontecendo. Dessa maneira, perco informações importantes que por certo, em algum grau, iriam aprimorar meus resultados.
3- Transgrido minhas leis e pactos de apostas. Todo apostador é um legislador pessoal. Uma das minhas leis é não apostar antes de quinze minutos do primeiro tempo — prazo que pode ser estendido para vinte, trinta ou cinquenta e cinco minutos, mas nunca antecipado. Como um bom brasileiro, não levo muito a sério as leis, mas depois me arrependo amargamente.
4- Não consigo ter frieza após um sequência de derrotas. Nesse contexto, tendo a cometer vários erros. Fico relaxado demais, tiltado como dizem os jogadores de poker, e quero apostar à esmo, para ganhar de forma aleatória e inconsistente. O processo seletivo de apostas fica comprometido. Minhas regras financeiras se perdem: por um lado não faço novos aportes, com medo de estar entrando em um mau negócio; por outro, abandono regras do tipo 10%, 12% ou 15% do bankroll para cada aposta, porque é mais difícil correr atrás do prejuízo nesse sistema. Tendo a voltar para valores fixos de apostas, mas uma nova derrota trás ainda mais confusão e dúvidas quanto ao valor ótimo a apostar.
A gente repete o erro porque tem um ganho escondido em cada ação errada. Escolho jogos importantes porque gosto deles. Não planejo porque quero evitar o trabalho de planejar. Transgrido minhas leis para evitar a ansiedade de ter um desejo não atendido. A derrota atrapalha a programação porque associamos uma à outra e não queremos perder novamente, por isso nos desprogramamos.
Não podemos esmorecer. Cada erro repetido deve suscitar um novo compromisso com a solução, uma nova busca, uma disciplina, um ato de corrigir. É importante tentar se antecipar ao erro. Use lembretes, mensagens, avisos, para refrescar a memória e aprimorar o processo de tomada de decisão. É também preciso achar modos de reduzir os prêmios ganhos por errar. Isso exige muitos estudos de psicologia esportiva, ajustes pessoais e um longo caminho no autoconhecimento.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Aprenda a não apostar

Apostas frequentes criam o hábito de apostar. Na melhor das hipóteses nos tornamos apaixonados pelas apostas esportivas, que nos trazem muitas felicidades. Na pior das hipóteses viciamos e insistimos em nossos palpites mesmo em fases ruins. Para sermos bem sucedidos é preciso que nos aprimoremos na arte de não apostar.
Há jogos que não acontece nada de atípico. O juiz não está roubando pra ninguém, as cotações realmente refletem as forças dos times. Não chove nem faz muito frio. Os jogadores não estão nem muito nervosos nem muito relaxados. Os chutes ao gol ocorrem de acordo com a probabilidade que esperaríamos. O futebol parece ser meramente um evento aleatório dentro de bandas previsíveis de probabilidades. Nesse caso a perda é certa no longo prazo, porque o computador ganha da gente.
Um bom exercício é sempre procurar decidir se vale a pena ou não apostar. Ao invés de pensar em perdas e ganhos, devemos pensar em apostas e não apostas. O objetivo é aumentar a lucratividade e a taxa de acerto e isso exige que você saiba não apostar.
Não apostar é vencer. Além dos jogos em que você não deve apostar porque as cotações refletem muito perfeitamente o que está acontecendo e a comissão implícita corrompa sua lucratividade, você deve aprender a intuir jogos que parecem ser surpresas do destino, eventos ilógicos. Só com intuição isso é possível. O raciocínio frio e calculista não permite investigar as obras do acaso. É preciso mágica, sensibilidade e sabedoria.
Se você aposta por mera diversão — o que é algo raro, porque a maioria dos apostadores aposta para vencer, unicamente — vai ser difícil segurar a vontade de fazer a aposta, afinal, assistir um jogo sem ter feito apostas perde a graça. Para nos divertirmos, é preciso apostar, pagar algo, como qualquer outro lazer. Mas quem almeja o profissionalismo terá de lidar com a abnegação do divertimento. É preciso reconhecer que para ganhar nem sempre a gente pode se divertir o tempo inteiro. Muitos jogos teremos de ficar de fora, como meros espectadores desmotivados, para continuar nossa luta contínua de aprendizado e busca pela maestria nos prognósticos esportivos.
Não só a diversão precisa ser controlada no caso dos apostadores profissionais. Também é preciso dominar a ambição e a auto-estima muitas vezes elevada nas fases positivas, bem como a depressão e a auto-estima baixa nas fases negativas. Emoções extremas, fora de equilíbrio, tanto para cima como para baixo, produzem danos no percentual ótimo de jogos que devemos apostar. Muitos, quando estão perdendo, querem correr atrás do prejuízo e apostam demais. Outros, quando perdem, desanimam e se afastam, crendo não ser possível bons resultados. O mais frequente parece ser o primeiro caso, que é terrível, pois leva a falência rapidamente o jogador que está em uma fase ruim e que quer apostar volumes cada vez maiores em frequências mais rápidas para afastar a fase ruim e voltar ao estado positivo.
O percentual de entrada ótimo de apostas também é afetado quando estamos em uma fase boa. Com medo de perder a lucratividade e voltar a um ponto anterior, costuma-se protelar as apostas e perdem-se boas oportunidades. Por outro lado, há jogadores que a vitória traz a sensação de superioridade e a confiança de que não irão perder mais, o que provoca apostas em quantidade excessiva.
Enfim, saber não apostar é algo que precisa ser trabalhado com atenção e zelo. Mas é o segredo dos profissionais. A curva de aprendizado dessa habilidade é longa para a maioria das pessoas. Não deixe de refletir sobre o assunto e de começar a aprender o quanto antes.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Comentários sobre o resultado de julho de 2012 e melhor título para setembro de 2012

O Tesouro publicou, em 15/08/2012, o resultado do mês de julho. Não há mudanças radicais, mas quando comparamos com o resultado de passados três meses é possível notar alguma alteração. O público tem preferido prazos mais longos — 65% tem comprado títulos com prazos superiores a 5 anos. Sempre suspeito que as pessoas não tem noção dos riscos que estão incorrendo. É difícil acreditar que esse alto percentual de investidores realmente pretende deixar os títulos vencerem normalmente. Mais provável é que muitos estão seduzidos pelas tabelas de rentabilidade, que costumam ser mais acentuadas, para cima e para baixo, nos títulos de prazos longos.
A preferência pelos títulos indexados à inflação caiu de um patamar em torno de 65%, durante o primeiro semestre, para 61,7% em agosto. Tal movimento é, talvez, fruto da queda da rentabilidade bruta em espaços de tempo curtos em junho e julho que motivaram mudanças no comportamento do investidor que baseia suas decisões exclusivamente na rentabilidade passada imediata. Como em agosto as NTN-Bs não tem reagido, é provável que o percentual caia ainda mais na próxima divulgação.
No mercado de juros futuros, o contrato de maior liquidez, janeiro de 2013, ficou em 7,30, enquanto o de janeiro de 2014 fechou em 7,89 e janeiro de 2017 em 9,29. Comparando com a primeira semana de julho é interessante notar que a amplitude aumentou: agora temos quase dois pontos percentuais entre quatro anos, enquanto antes tínhamos 1,7. Não há grandes mudanças no teste do piso: o mercado continua apostando em 7,25. Eu vejo espaço para maiores baixas e piso em 7,0. O governo quer recuperação rápida, mesmo se for irresponsável. Nesse cenário, as NTN-Bs podem continuar sendo um bom negócio.
Comparando a NTN-F de 01/01/23 e a NTN-B teórica com vencimento igual, teríamos 10,03% contra 4,20% e uma inflação implícita de 5,77%, bastante alta ao nosso ver, embutindo um grau de incerteza forte.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Cachorro quente dá lucro?

Cachorro quente dá lucro? Essa é uma das procuras mais populares no google. O principal atrativo é que não há barreiras à entrada para novos empreendedores. Todo mundo sabe fazer cachorro quente. Mas se lembre: quando não há barreiras, a concorrência pode ser muito intensa. Então, a primeira tarefa é achar um bom ponto, em algum bairro, sem nenhum concorrente de peso. As pessoas gostam de comer perto de suas casas, para economizar com combustível ou transporte, ou para não ter de andar muito. Por isso é importante achar algum lugar densamente habitado.
Os investimentos são baixos. Um carro apropriado, para ser rebocado, pode ser comprado por R$ 10 mil. Com R$ 30 mil você pode optar por um veículo utilitário equipado para vender o produto. Embora seja mais caro, exige menos espaço, o que pode ser um quesito importante dependendo da localização escolhida.
Os custos fixos são baixos: correspondem à depreciação do equipamento e do carro de cachorro quente e de seu custo de oportunidade. Supondo R$ 15 mil de investimento inicial, depreciação de dez anos e custo de oportunidade de oito por cento ao ano, e R$ 75,00 de despesas diversas, tem-se um custo fixo mensal de R$ 300,00 ao mês. Os custos variáveis de matéria prima não devem passar de R$ 1,50 por unidade vendida para os tipos mais simples. Se você vender o produto a R$ 3,50 acompanhado de um refrigerante a R$ 2,50 (com custo de R$ 1,50), deve ter uma margem de contribuição de R$ 3,00 por cliente atendido, sem contar o custo da mão de obra. Se assumirmos que você mesmo irá trabalhar e ignorarmos o custo de oportunidade de seu tempo, é mais fácil calcular os resultados. Supondo que você trabalhe 22 dias ao mês, folgando dois dias por semana, e atenda 50 clientes por dia, ao final do mês terá um lucro de R$ 3.000,00.
Seus ganhos serão bem menores se você precisar contratar empregados para o trabalho. Como o serviço é noturno, não será fácil achar bons empregados que aceitem as condições nem sempre boas de trabalho. Ademais, a legislação trabalhista exigirá pagamento de adicional noturno e de acréscimo para o trabalho nos fins de semana. Com sorte você conseguirá ter despesas na ordem de R$ 1.500,00 por funcionário (para um salário de R$ 700,00). Note que se você colocar dois funcionários, todo seu lucro desaparecerá para pagar os empregados. Além disso, se você precisar formalizar o negócio, some R$ 500,00 às despesas para o pagamento de impostos e do contador.
Enfim, vender cachorro quente é um microempreendimento apropriado para quem quer arregaçar as mangas e preparar as refeições por conta própria. Nas grandes cidades, o faturamento é maior, porém pode ser perigoso trabalhar à noite. Nas cidades menores, o risco não é significativo, mas o faturamento diminui e a concorrência aumenta.
Ademais, é preciso estar preparado para oferecer um produto de boa qualidade. O consumidor quer pagar pouco, mas nem por isso pensa em abdicar da qualidade. Estar atento aos fornecedores e à matéria prima é importante. Por último, é preciso ter paciência para atender bem os clientes, que em geral são fieis ao ponto quando bem atendidos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Melhor carteira recomendada para agosto de 2012

Em julho, elogiei a Souza Barros e a Ativa, por suas boas carteiras, equilibradas e sensatas. Em agosto, mantenho meu elogio para a Souza Barros. É uma das poucas corretoras que tem coragem de sugerir apenas cinco papeis: CCRO3, CMIG4, HGTX3, ODPV3, CRUZ3. A aposta é pelo conservadorismo, buscando dividendos e mercado interno em crescimento.
A carteira da Ativa veio extensa e arrependida: das dez ações, pelo menos seis são de tempos saudosos de nossas bluechips (PETR4, VALE5, GGBR4, BVMF3, ITUB4 e BBDC4). Outras quatro são de empresas consolidadas (BRML3, LREN3, CPFE3 e BRFS3). Parece ter havido algum tipo de mudança na análise da corretora.
A carteira da TOV também pareceu interessante: VALE5, RENT3, CMIG4, NATU3, CCRO3, HYPE3, VIVT4. Mas a Natura nunca esteve tão cara, indicando que a sugestão é nitidamente grafista. E para a Hypermarcas ainda pode não ser o momento certo de voltar a por os olhos.
Uma guinada menos especulativa foi dada pela XP: BRP3, CSMG3, CSAN3, OHLB3, PCAR4, UGPA3, VALE5, ESTC3 e OSXB3. A carteira ficou melhor e mais adaptada ao momento positivo da bolsa brasileira.
A Ágora resolveu focar no mercado interno: ABCB4, RADL3, LAME4, AEDU3, CMIG4, PCAR4, BRML3, TIMP3, CIEL3 e BBAS3. Excluiu qualquer ação que tenha commodities e escolheu ações que tem alta correlação entre si - procedimento questionável. E resolveu praticar heroísmo com Banco do Brasil e Anhanguera.
Carteira curiosa é a do BTG Pactual: FIBR3, CCRO3, LAME4, BRML3, EMBR3, KLBN4, DTEX3, VLID3, KROT11 e BEEF3. Parece a ressurreição dos mortos vivos. Boa sorte para quem gosta de filme de terror.
É arriscado para um analista sugerir TIMP3, depois do caos do mês passado. Mesmo assim, além da Ágora, a Planner também comprou a aposta fundamentalista de um reajuste. Também sugere AMBV4, BRSR6, CESP6, EZTC3, AMAR3, MDIA3, OHLB3, PCAR4, CSNA3, TOTS3 e VALE5. Observo a coragem de sugerir Banrisul, um banco lucrativo, que pode ser uma boa opção em tempos de setor afetado pelo esforço regulatório do governo. Lojas Marisa continua cara e não provou ser capaz de ultrapassar suas resistências. Diferente da Totus, que mesmo cara, sobe de modo firme e decidido.
A carteira da Citi Corretora tem somente cinco ações: VALE5, ITUB4, AMBV4, IGTA3 e SBSP3. Deve ter um resultado próximo do Ibovespa, mas defendendo-se de tropeços da economia internacional. Difícil justificar Iguatemi ao invés de BrMalls, tendo em vista que possuem fundamentos parecidos mas o momento técnico favorece a segunda. E, em época de eleições municipais, é estranho pensar em um cenário que vá favorecer a Sabesp - na melhor das hipóteses ela continuará com seus contratos sem interferência, mas na pior das hipóteses, pode haver intervenções políticas desagradáveis.
O mês é muito incerto, porque até hoje a Bovespa subiu forte, mas sem razões internas ou externas convincentes. Prefiro, por isso, a linha de aplicação da Souza Barros.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Apostando em viradas

Nas apostas ao vivo é muito interessante apostar na possibilidade de viradas. Elas pagam muito bem. Para ilustrar, tomo como exemplo o jogo Atlético Goianiense e São Paulo, em 24/07/2012. O resultado do jogo, ao final do primeiro tempo, foi de 4 x 1 para o rubro negro de Goiânia. A cotação inicial mostrava ligeiro favoritismo para o tricolor paulista. A probabilidade marginal dos times fazerem gols mudou pouco com o desenvolvimento do placar e continuou refletindo a maior força do time com mais camisa. Mas o que pode ter acontecido para produzir um placar tão dilatado no primeiro tempo? Terá havido uma revolução instantânea na qualidade dos jogadores? Será que os são paulinos estavam sabotando o próprio time, como muitos postularam dias antes em razão do suposto intuito de derrubar um técnico autoritário? Essa última hipótese pode ser facilmente descartada. Com técnico novo e contemporizador, não haveria razão para autossabotagens. Ademais, o time do São Paulo continuava forte e consistente.
Uma análise dos gols do Atlético-GO, no entanto, mostrou que muitos foram fortuitos. Um de pênalti, fruto de um juiz caseiro, dois de bola parada e um último gol feio e atabalhoado. No mais, predomínio do São Paulo, seja na posse de bola, na construção das jogadas ou nas finalizações.
É esperado que, após um gol, as cotações reflitam uma probabilidade diferente dos times fazerem gol. O time que levou um gol tem uma probabilidade menor, reduzida, de fazer um gol. O que time que fez o gol tem uma probabilidade aumentada. Isso é normal, porque reflete o dado de que quem fez o gol está melhor em campo. Além disso muitos técnicos recuam seus times reduzindo a probabilidade de qualquer uma das equipes fazerem gols. A autoestima da equipe que marcou melhora, a pressão diminui e o desempenho é superior.
Tudo isso, acima exposto, é apenas em tese, porque na prática acontecem inúmeras variantes de jogo que contradizem as atualizações das probabilidades. No caso de jogo em tela, as cotações não mensuraram os gols fortuitos do time goiano. Também não avaliaram a importância da vitória para os jogadores são paulinos, em paz com seu técnico novo. E não levaram em conta que um placar tão dilatado logo no primeiro tempo poderia relaxar demais os jogadores da casa, pela margem de erro conquistada segura para conduzir a bola no segundo tempo.
O São Paulo não conseguiu virar o jogo, mas marcou dois gols no segundo tempo, fechando o placar em 4 x 3. A cotação, no intervalo, para o São Paulo +2 pagava 7.0. São Paulo +3, uma aposta relativamente bastante segura, pagava 2.62.

domingo, 22 de julho de 2012

Olimpíadas: de olho nos favoritos

No basquete masculino temos EUA (1.14) e Espanha (5.50) como favoritos, seguidos por azarões como França e Rússia (29.0), Argentina (34.0) e Brasil (41.0). A cotação verde-amarela já foi melhor e tem caído nas últimas semanas, enquanto os americanos e espanhóis estão cada vez melhores. No feminino, EUA é ainda mais favorito (1.083).
No futebol, ainda somos favoritos (2.50), colado na Espanha (3.50), de olho no Uruguai (7.50) e Grã-Bretanha (11.0). No feminino, os favoritos são EUA (3.0), Brasil (4.5) e Japão (6.0).
O Brasil também é favorito no voleibol (2.50), seguido de Polônia (3.25), Rússia (4.0) e Itália (9.0). No feminino, EUA (2.10), Brasil (2.87) e Rússia (4.75).
Maurren Maggi não levará nenhuma medalha provavelmente, é apenas a oitava favorita (21.0). Mas na natação, nos 50m, Cézar Cielo é o favorito (1.61).

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Think tanks brasileiros caros e ruins

Muito interessante o post "A presidência do IPEA e os Departamentos de Economia" do blog do Mansueto. Ele se espanta pela briga política para indicação do presidente do IPEA, de um órgão de apenas R$ 300 milhões de reais por ano cuja maioria das despesas é de folha de pagamento e que o poder de influência é questionável. O autor, no entanto, não estende a discussão. Por esse preço, melhor seria se revíssemos a validade de ter um órgão como o IPEA nos dias de hoje.
Em muitos países, os think tanks são de natureza privada, com recursos obtidos de doações de indivíduos ou empresas que querem pensar e influenciar a política. É interessante ter essas instituições de natureza pública, pelo menos em tese. Mas não a qualquer preço. Antigamente, se não fosse nossas entidades de planejamento, dificilmente teríamos uma boa reflexão sobre as políticas nacionais. Porém, hoje, a academia publica muito, num ritmo maior do que há anos atrás e a maioria das pesquisas e opiniões vem de centros de pesquisa universitários, por meio de publicações em revistas, simpósios, congressos, teses e dissertações. Boa parte desse trabalho é feita por pessoas que se dedicam à pesquisa mesmo sem remuneração e o fazem com grande qualidade, sob os olhares críticos de seus pares.
É importante comparar o IPEA com o NBER — National Bureau of Economic Research. O congênere americano publica ao menos dez vez mais que o brasileiro. Para tal, teve despesas da ordem aproximada de R$ 70 milhões em 2011. E com esse valor conseguiram financiar pesquisas de mais de 1.100 pesquisadores associados.
O Brasil paga caro por suas pesquisas. O abuso não é só no IPEA. O Depec, do Banco Central, tem mais de 200 funcionários e um custo altíssimo. O BNDES também tem sua equipe de pesquisa para estudar a indústria, assim como o Tesouro para estudar a dívida. Mas cada órgão desse, somado ao Planejamento, ao IBGE e à Fazenda, ainda estudam conjuntura econômica e há centenas de pessoas fazendo basicamente a mesma coisa. O custo é fantástico e o resultado é pífio, porque a maior parte dos frutos pode ser obtido de modo mais eficiente e barato no setor privado ou junto às universidades. Precisamos urgentemente racionalizar nossos think tanks.

Selic a 7,0? Melhor título público para agosto 2012.

Hoje, 11 de julho de 2012, é o dia de anúncio de mais um corte na Selic. Escrevo sob grande expectativa, enquanto o anúncio está no forno. O mercado ultrapassou barreiras importantes nos dois últimos dias que não podem deixar de serem notadas, independente das decisões do Copom. Há tempos aguardávamos o mercado se decidir se a Selic poderia ir abaixo de 7,5%. E os investidores decidiram que este não é mais o piso. O título de julho de 2013 passou a ser precificado em 7,35%. Mesmo janeiro de 2013 ficou abaixo, em 7,47. Janeiro de 2017 cravou 9,03, rebaixando em definitivo a curva futura de juros para um novo piso.
O PIB segue insosso e o discurso do governo se repete a exaustão, de que usará todas as medidas possíveis e cabíveis para fomentar a economia. Nessa toada, é natural que a pressão para o Bacen cada vez menos independente seja para queda da taxa de juros.
Se o mercado aceitou quebrar a barreira dos 7,5%, também dificilmente obstará reduções para 7,25% e 7%, a não ser que haja surpresas desagradáveis no campo inflacionário.
Com a curva de juros futuros deitando fortemente, a melhor escolha especulativa, ao menos até o fim dos cortes e para quem acha que vai abaixo de 7,5% e que a inflação está sob controle, é da NTN-F de 01/01/2023.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Diversifique suas moedas

Quando você trabalha com ações, há um custo muitas vezes significativo de diversificar suas aplicações, o custo de transação. Um jovem aplicador que tenha R$ 20.000,00 aplicados em cinco papéis diferentes e que uma vez por mês mude um dos papéis, pagando R$ 20,00 por operação, terá gasto ao final do ano R$ 480,00 em transações (2,4% de seu capital). Isso traz hábitos ruins, como de evitar diversificar e atualizar o portfólio.
Em forex, não existe custo de diversificação e isso muitas vezes é esquecido pelos investidores. O custo de aplicar em um ou em dez pares de moeda em simultâneo é exatamente o mesmo, porque você paga uma proporção (spread) do negócio. Se você tem o hábito de investir todos seus recursos em um único par, repense sua estratégia. Confesso que, contraintuitivamente, pode ser relativamente confortável estar comprometido em um único par, porque na cabeça do investidor ele pode estar maximizando seus ganhos — ele escolhe o par que em sua opinião tem maiores chances de lhe dar lucro, ao invés de diversificar em pares que tem dúvida do caminho que irão seguir. Ademais, o investidor pode argumentar que a maioria dos pares estão correlacionados e de que não adiantaria diversificar. Mas é por isso mesmo que a melhor opção é diversificar. As correlações entre os pares mudam ao longo do tempo. Talvez você consiga prever os movimentos globais das moedas, mas não consegue acompanhar suas idiossincrasias, as pequenas surpresas de cada dia que afastam ou atraem as moedas umas as outras. A diversificação entre os pares contribui para evitar que os ruídos das economias nacionais afetem em demasiado suas escolhas e suas estratégias.
O ruído tem natureza aleatória e é justamente a aleatoriedade que destrói os lucros dos investidores em forex. O objetivo é reduzir a aleatoriedade e, para isso, a diversificação é um bom negócio, pois ainda que um dos pares tenha sido alvo de um choque aleatório, os outros seguirão as tendências que você previu. Quanto menos aleatória for a sua conta bancária, provavelmente melhor serão seus resultados. Afinal, são poucos os traders que lidam bem com a volatilidade de seus recursos. O certo é evitá-la e diminuir os riscos de perder o dinheiro e a cabeça. 

Apostar por lazer ou pra ganhar dinheiro?

Essa é uma dúvida que todo apostador esportivo tem. Por um lado, os fatos tendem a mostrar para o apostador que ser lucrativo dá muito trabalho: muitas horas em frente da televisão, leituras sem fim de jornais, revistas e sites esportivos, cálculos complexos de odds, esforços para simulações de estratégias e estimativas de lucro passado, ansiedade, nervosismo, risco de perder a cabeça e a conta bancária, para conseguir, quando muito, em boas fases, poucos pontos percentuais de lucro. Por outro lado, o universo das apostas é tão empolgante e envolvente que o lazer e o prazer justificam o esforço de ganhos pequenos.
Na verdade são as duas coisas juntas. Apostar por puro lazer não existe, porque o que motiva os apostadores é justamente o ganho pecuniário e não somente a prova para alguém ou para si mesmo de que pode fazer bons prognósticos. A prova maior a ser cumprida é de que o apostador é lucrativo. Mas o lucro é pequeno e incerto, não é o ganha pão de ninguém, e por isso a aposta não deixa de ser uma diversão.
Nenhum dos dois lados pode ser ignorado. O apostador que só aposta por diversão tende a se sentir diminuído, fraco e medroso. O apostador que só aposta por lucro se estressa, se cansa e se desespera por não poder ter mais tempo para fazer todos os estudos que pretende e, cedo ou tarde, conclui que há outros negócios melhores para se fazer.
Por isso a cabeça do apostador é bipolar: aposta para ganhar dinheiro e para se divertir. Em síntese, é para ganhar dinheiro se divertindo, que é o sonho de todo homem.

Franquia dá lucro?

O modelo de franquias se expandiu nos Estados Unidos, a partir dos anos 30, principalmente no ramo alimentício. Embora as principais franquias do mundo sejam norte-americanas (Subway, McDonald´s e 7-Eleven), por incrível que pareça é o Brasil que detém o maior número de empresas franqueadoras. Em muitos países o esquema das franquias não se desenvolveu, mas no Brasil prosperou por conta de um aparato regulatório iniciado na Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994, que dispõe sobre o contrato de franquia empresarial (franchising). O Brasil é líder na área por conta dos custos jurídicos e contratuais relativamente baixos de apresentar uma franquia para o mercado.
Em geral, quando o modelo dá certo, existe uma correta distribuição das responsabilidades entre franqueador e franqueado. Os negócios bem sucedidos acham o bom equilíbrio. Portanto, é fundamental ter certeza de que o sistema proposto pelo franqueador é realmente lucrativo.
No Brasil, infelizmente, muitas franquias são armadilhas para o franqueador ganhar dinheiro às custas do franqueado. Se o negócio dá certo, diz-se que os méritos são do franqueador. Quando dá errado, porém, a culpa é toda atribuída à inexperiência ou à má administração do franqueado.
Pelo menos em tese o franqueador só deveria ganhar dinheiro e lucrar quando o franqueado assim o fizesse. Mas essa não é a prática do nosso mercado. Na maioria das vezes o franqueador obriga o franqueado a pagar valores altos para montar o negócio e o lucro do franqueador aparece logo de início, ao impor regras abusivas, taxas diversas, padrões que precisam ser seguidos, normas que custam caro e contratações obrigatórias com indicações do franqueador. Nesses casos, às vezes o franqueador nem se importa com os lucros na fase de operações, tamanho seus ganhos nas fases iniciais — isso pode atrair franqueados inexperientes, por se tratar de uma franquia barata de operar.
Em princípio um bom contrato de franquia deveria estabelecer o interesse mútuo do negócio prosperar. Mas como muitos franqueadores ganham dinheiro explorando o franqueado, os contratos costumam ser falhos, dando brechas para lucratividade de um em detrimento dos ganhos do outro. Por isso, tome cuidado com as franquias. Pesquise muito antes de estabelecer o negócio, entrevistando franqueados, consultando escritórios de advocacia, refletindo as vantagens de participar da franquia ao invés de ser independente e mensurando todos os custos que terá a mais na operação por ser um franqueado.
Afinal, franquia dá lucro? Sim, pode dar certo, mas escute com um ouvido muito crítico as promessas dos franqueadores.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Melhor carteira recomendada para julho de 2012

O Jornal Valor Econômico divulgou a carteira recomendada de nove corretoras para o mês de julho de 2012. Qual será a melhor delas? É quase impossível dizer, porque são muito parecidas. Mas há aquelas mais conservadoras e outras mais arrojadas, mais fundamentalistas ou mais técnicas.
Sempre tenho simpatia pelas carteiras da Ativa, geralmente pouco especulativas. Para julho, veio defensiva, com VALE5, ITUB4, AMBV4, CPLE6 e CCRO3. Semelhante foi a sugestão da Geração futuro: VALE5, ITUB4, CPLE6, GUAR3 e POMO4, uma carteira com um pouco mais de tempero. É difícil saber se a Marcopolo ainda tem fôlego para continuar subindo (32,4% em 2012) — o P/L de 12,2 indica que sim. A Guararapes é uma aposta, pois não bombou como suas concorrentes e pode ser a bola da vez.
Há semelhanças, também, na carteira da Citi (VALE5, MRVE3, TIMP3, MDIA3, CCRO3) e da Octo (VALE5, MRVE3, BBDC4, CMIG4, BRML3). As construtoras não conseguirão reviver a fase áurea, mesmo assim a MRV tem múltiplos muito atrativos perto de seus pares. Em números, é similar a PDG Realty, presente na sugestão da Planner (TIMP3, PCAR4, CMIG4, VALE5 e PDGR3). A Tim continua em destaque pelos planos de expansão bem sucedidos. Cemig é, como sempre, uma boa escolha defensiva. Os múltiplos do Itaú e do Bradesco são muito parecidos, mas as ações do Itaú são mais voláteis. Ambas continuam sob o risco de intervenção governamental no mercado de produtos bancários.
Pão de Açúcar também está presente na carteira da Santander (GGBR4, PCAR4, KROT11, CCRO3 e MULT3) e na SLW (PCAR4, ELPL4, DASA3, PMAM3, GETI4). É uma ação do tipo promessa irracional, que não deslanchou mas que não está barata. Sugerir Eletropaulo, as vésperas da revisão tarifária (que reduziu 10% o valor da ação), foi no mínimo uma decisão imprudente, piorada ao colocar junto na carteira a AES Tietê, do mesmo grupo. Se isso não bastasse, a SLW decidiu apelar para o heroísmo e tentar ressuscitar a Paranapanema. A carteira da Santander chama a atenção pela presença de Kroton e Multiplus, que só se justificam por análise técnica, pois já estão com múltiplos caros e há risco de realização de lucros dos investidores. Também é a única corretora que sugere Gerdau ao invés de Vale, talvez pelo desempenho gráfico em 2012.
No lado das corretoras prudentes, está a Souza Barros, com AMBV4, CCRO3, CMIG4, ODPV3 e CRUZ3. Souza Cruz não é uma recomendação popular, mas seu desempenho na bolsa tem sido impecável nos últimos anos. Situação parecida é a da Odontoprev. Não são ações baratas, mas devem segurar seus preços tranquilamente durante o mês. O interessante dessa carteira é o baixo risco de intervenção governamental nos negócios e de dependência externa. Não há commodities, bancos ou construtoras.
Como sempre, a carteira mais esquisita é da XP (UGPA3, BRFS3, SULA11, CSMG3, OHLB3). A sugestão da OHL é interessante, porque custa metade do preço (nos múltiplos) de sua concorrente popular CCR. Sul América é uma aposta arriscada, porque a competição no setor não dá tréguas. Ultrapar está num setor delicado, sob os olhos do governo. E a Brasil Foods, em certo grau dependente do mercado externo, não está em um bom momento.
Enfim, me parecem responsáveis e maduras as carteiras da Ativa e da Souza Barros.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Estruturalismo e ecologia

Agora foi a vez de Bresser-Pereira (FSP, 18/06/12) dar seus pitecos no desenvolvimento sustentável. É engraçado ver o otimismo de nossos economistas heterodoxos quando ficam mais velhos, à esteira de Paul Singer e Celso Furtado, para citar dois casos.
Bresser acredita que o PNUMA, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é, de fato, uma prova de governança global. Penso o contrário: se algo fracassou no âmbito da ONU foi o meio ambiente e a tentativa malograda de instituir alguma forma de governo supra-nacional nesses temas.
Fala que o problema da defesa ambiental é o do carona — tirar vantagem do esforço ambiental de terceiros sem fazer a própria parte. Mas não existem só caroneiros no mundo; também há cooperadores e gente honesta. Até aí eu sei, caro Bresser, mas continua sendo um problema de conta: se o número de caroneiros é muito grande, a balança pende para o individualismo. Ademais, mesmo a cooperação possui regras e reciprocidades. Coopera-se com quem coopera, caso contrário os liames que sustentam a cooperação se rompem. E é isso que acontece quando duzentos agentes com interesses diversos se reúnem para decidir qualquer coisa.
Bresser fala que para os neoliberais a alternativa é deixar por conta do mercado. Ora, não se trata de uma alternativa. A ajuste fica por conta do mercado porque não se encontra outra alternativa. E o problema ecológico não é novo. Já temos pelo menos 40 anos de ambientalismo e alertas ambientais e pelo menos 20 anos tentando articular decisões planetárias. Se nada foi feito até agora, é porque é realmente difícil. Não adianta esperarmos por um governo mundial, pois ele não vai aparecer.
Como solução imediata, Bresser fala de metas e taxas sobre empresas poluidoras. Mas esse não é um arranjo simples. As economias nacionais estão profundamente conectadas com suas indústrias poluidoras. Os poluidores geralmente também são os mais poderosos e seus lobbies atuam com relativa facilidade para remover iniciativas verdes mais ambiciosas. Um governo que implemente tais medidas precisa ser proveniente de um partido realmente ambiental, verde, e esses partidos não costumam ganhar as eleições sem amplas alianças que impedem a execução de políticas ambientais abrangentes. Mesmos as pessoas que não usam sacolas de plástico e que separam o lixo em suas casas por vezes não estão dispostos a votar nos partidos verdes. Se em nível internacional a política ambiental é impossível, em nível nacional ela é improvável.
Por fim Bresser diz ser uma tolice o mantra de que os países pobres não podem repetir o padrão de consumo dos países ricos, mas que se isso for verdade, são os ricos que devem diminuir o consumo. Lendo essa frase, parece-me que Bresser nunca leu Marx na vida. Esquece-se que a discussão do padrão de consumo também passa pelo poder. Rico é rico porque tem mais poder. A lição é básica. Não há razão para imaginar que um rico aceitará diminuir seu padrão de consumo por mero altruísmo. E os pobres trabalham feito loucos em países subdesenvolvidos para um dia poder brincar de branco endinheirado.
Enfim, espero que Bresser-Pereira costume ir de bicicleta para o trabalho e que tenha somente um carro tipo mil para emergências. Torço para que isso seja verdade, embora acredite que o mais provável é que tenha um SUV faminto por carbono.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Melhor título do Tesouro Direto para julho de 2012

O balanço do Tesouro Direto referente à maio de 2012 foi divulgado ontem, 19/06/2012. A preferência por títulos indexados ao IPCA, as NTN-Bs, bombou, chegando a 70,8% dos títulos comercializados, ante 64,2% do mês de abril. Nunca as NTN-Bs foram tão populares. Como elas têm prazo mais longo, redundaram em um aumento dos títulos com vencimento em mais de cinco anos para um percentual de 65% dos títulos comercializados, ante 56,8% do mês anterior. Outro dado relevante é de que as vendas em maio tiveram aumento de 26,2% em relação a abril. Muito provavelmente, é fruto das rentabilidades ruins oferecidas pelos fundos de renda fixa, que fazem os investidores deixarem sua preguiça de lado e buscarem o Tesouro Direto.
Há um mês atrás já havíamos observado o excessivo apetite ao risco do investidor. A maioria das pessoas compraram NTN-Bs em maio simplesmente por consultarem a tabela de rentabilidades que mostrava rendimentos na ordem de 30% ao ano. No entanto, nos últimos trinta dias, os rendimentos das NTN-Bs têm sido fortemente negativos (-14,5% para as NTN-Bs Principal de 2035). O título favorito dos investidores decepcionou. Talvez essa tenha sido uma lição necessária para os investidores aprenderem as vantagens das LFTs, tão desprezadas pelos diletantes.
Os juros futuros para janeiro de 2013 ainda estão oscilando na faixa de 8,0% e 7,7%. A LTN de 01/01/13 promete 7,8%, enquanto os juros futuros de hoje apontam 7,74%. Uma LTN teórica para 15/05/13 pagaria 7,93%. A NTN-B de 15/05/13 paga 3,06%. Isso implica um IPCA anual de 4,87%. A NTN-F 01/01/21 paga 10,12%, enquanto a NTN-B teórica do mesmo período pagaria 4,57%, o que significa um IPCA de 5,55%.
A NTN-B Principal de 15/05/2035 está pagando 5,02% ao ano. Se imaginarmos uma taxa de inflação de 4,5% na meta, nos próximos anos, trata de uma taxa de juros nominal de 9,52%. Especular com esse título, agora, só vale a pena se você realmente acredita que a Selic alcançará 7,50% nos próximos meses ou que a inflação aumentará para níveis acima de 5,5% ao ano. Como eu acredito numa inflação mais baixa com o câmbio sob controle, prefiro especular com a NTN-F 01/01/23.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Carteira da Socopa para semana de 18/06/12

A carteira semanal da Socopa veio cheia de esquisitices. Três X, MPXE3, OGXP3, OSXB3. Uma mineradora, VALE5. Uma telefônica, VIVT4. A volta de GOLL4 nas recomendações. Uma de educação, AEDU3 e uma de mercado interno, LAME4. Duas de construção civil, EVEN3 e PDGR3. E uma de agricultura, VAGR3. Parece muito especulativo, principalmente quando sabemos que a carteira da corretora tem perdido de seu benchmark, o Ibovespa. Parece querer aproveitar informações reservadas. O analista responsável diz que a carteira está balanceada. Na minha opinião, há muito risco desnecessário para um retorno duvidoso.

O euro voltará à casa de 1.30 logo?

Para os fanáticos em análise gráfica, o euro está muito interessante. O mês de maio foi incrivelmente regular, fazendo a moeda cair de 1.32 para 1.23 e fornecendo boas oportunidades de ganhos. Tudo caminha para que junho seja o reverso de maio. As eleições gregas corroboraram tal tendência. Se junho for um espelho de maio, o euro volta a casa dos 1.30. Mas nada mudou de fato com a reviravolta da Grécia, pois o problema maior é o espanhol e é para onde as atenções estão voltadas. Os traders continuam em dúvida: 43,4% comprados e 56,4% vendidos. Difícil ficar vendido, com um gráfico de junho tão bem comportado crescentemente. As chances de boas notícias parecem ter aumentado e por isso, no curto prazo, parece ser um bom negócio ficar long.

Quartas de final da Euro 2012

As apostas não estão fáceis. Os favoritos são muito bem conhecidos. As zebras também. O único jogo equilibrado é entre Itália e Inglaterra (2.87), com ligeiro favoritismo para a esquadra azurra. Portugal (1.72) está bem entrosado, mas não terá um jogo tão fácil como dizem as cotações e parece depender demais de Ronaldo. Mais fácil é apostar na Espanha (1.80), que não costuma tropeçar perante times irregulares e desunidos como o francês. A Alemanha (1.33) é a mais favorita diante da Grécia e a disciplina tática alemã está bem rigorosa e não deve decepcionar.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Iene e a promessa de intervenção

O Ministro de Finanças do Japão, Jun Azumi, disse que vai intervir com força no mercado cambial para evitar flutuação excessiva da moeda. O problema é que as palavras dos responsáveis pelas finanças do país, depois de jogadas ao vento por tantas vezes, não colam mais nos ouvidos do mercado.
A dificuldade de intervenções pontuais é que trazem muita confusão aos mercados. Aumentam a incerteza, ao invés de diminuí-la. Ninguém sabe o quanto e o quando. A volatilidade é incrementada, respondendo de forma mais agressiva às notícias. O tiro sai pela culatra.
No caso japonês, só sabemos que o par USD/JPY abaixo de 80 ienes não é desejável. E já estamos algumas semanas abaixo do piso desejado. Mas o governo protela sua indecisão. De qualquer forma, 74,7% dos traders (Oanda) estão longos no par e 25,3% estão curtos, o que significa que as pessoas estão mesmo acreditando nas palavras do ministro. Porém, até as medidas de fato, o iene tende a se valorizar por ser um porto seguro. Aguardemos do lado de fora para tomar nossa posição de quando comprar o par.

Quem ganhará a NBA 2012?

Spurs (2.37) ou Heats (2.10)? Ou esperar a reação dos Thunders (5.50) e do Celtics (11.0)? Não é de hoje que o Miami é um time de jogadores individualistas, que não jogam em conjunto, com um técnico que parece não ser respeitado. É a antítese do Spurs, que tem um jogo responsável e colaborativo. Claro que, se Wade e James quiserem o título mesmo, vão levar. Apáticos, os craques perderam o título no ano passado. Talvez a história se repita esse ano ou tenham aprendido a lição. Para saber, só acompanhando passo a passo o jogo deles. Excluo o Celtics porque é inferior, e o Thunders porque não tem a experiência do adversário e isso será cobrado.
Fico com uma aposta combinada, de Spurs ou Heats (1.11) como campeão.

Carteira da XP de junho de 2012

Enfim, a XP parece ter limpado sua carteira de ações de setores combalidos. Eu esperava há algum tempo a exclusão de PETR4 e VALE5 das carteiras recomendadas e agora veio o ajuste. Também esperava a exclusão dos bancos, setor que o governo resolveu atacar. E não sobrou nenhuma ação do setor financeiro no rol sugerido, embora permaneça RDCD3, uma escolha questionável. A área de combustíveis, principalmente do tipo dependente do mercado interno e menos sensível a variação do petróleo, é bem representada por UGPA3. Também se apoiam na força do mercado interno MDIA3, OHLB3, PCAR4 e ALSC3. Ademais a lista indica BRFS3, ainda em bom momento, CSAN3, uma boa opção defensiva, e BRPR3, apostando em nova reação do setor imobiliário comercial por falta de opções de investimento.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Copom em consenso: 8,5%

A reunião de ontem do Copom terminou sem surpresas. A taxa de juros baixou para 8,5%, o texto do comunicado anterior foi mantido e os analistas acham que haverá uma nova redução, no encontro de julho, na mesma magnitude. Nesse caminho previsível, pode ser um bom negócio manter em carteira títulos públicos de longo prazo, como a NTN-B Principal com vencimento em 2035. Pelo menos para aproveitar a queda quase certa de julho.
Os juros de janeiro de 2013 estavam testando, semana passada, o patamar de 7,75%. Essa semana, testaram o piso de 8,0%.  É preciso ficar de olho no câmbio e na produção industrial. Se ambas variáveis subirem, a inflação responderá rapidamente e enfraquecerá a defesa de um juros abaixo de 8%. Minha opinião não mudou: aumento de preço é uma escolha política péssima. Por mais que Dilma ame o crescimento, os argumentos de seus assessores técnicos devem prevalecer.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Ecologia e a salvação pelo mercado

Sexta-feira passada André Lara Resende escreveu sobre os limites do desenvolvimento. E admitiu que surpreendeu seus colegas economistas com o tema, pois pode parecer neo-malthusianismo requentado.
Ora, nem 8 nem 80. O maior problema da ecologia é que justamente não prejudica, no curto prazo, os seres humanos. O planeta segue produzindo porque a maioria das respostas para os percalços ecológicos nascem de soluções de mercado.
É óbvio que é impossível replicar o padrão de consumo dos países ricos globo afora. Ninguém disse que isso seria possível. Talvez as mentes ingênuas ricas olhem para um indiano miserável e queiram acreditar que em poucas décadas ele viverá como um nova iorquino. Os recursos sempre foram escassos. A única coisa que irá acontecer é que eles se tornarão ainda mais escassos. E nessa escassez crescente quem ficou de fora da gastança continuará excluído.
A vida das pessoas não ficará um inferno porque o clima irá mudar. Dificuldades existirão nos piores cenários, mas num nível semelhante às crises de hoje em dia, motivadas por bancos fraudulentos ou governos deficitários.
Coordenar esforços multilaterais de prevenção à mudança climática é extremamente difícil de se fazer num mundo com 200 países e tantos interesses divergentes. Às vezes essa dificuldade é subestimada, o que é algo muito ruim, pois passa a impressão que a resposta global é fácil de ser dada em pouco tempo. A verdade, dura e inaceitável para os ecologistas, é que não haverá resposta global.
Voluntariamente, as pessoas não deixarão seus carros em casa para de ir de bicicleta para o trabalho, nem optarão por não aquecer suas residências. Incentivos no campo ético e com respostas difusas no longo prazo têm resposta ruim em nossas ações. A causa ecológica é o típico motivador que deixamos para o amanhã, principalmente se estiver chovendo e frio hoje. Se estamos num clima muito quente, queremos um ar-condicionado agora e prometemos corrigir nossas vidas no amanhã.
O incentivo mais completo e eficiente é o financeiro. Hoje o preço dos combustíveis já dita quem pode ou não andar de carro. Quem vive na riqueza não sabe disso, mas quem precisa pegar um ônibus lotado ou involuntariamente ir de bicicleta ou a pé para o trabalho sabe muito bem. Se alguém economiza combustível em um país rico, alguém usa essa energia em um país pobre.
A regulamentação internacional funcionando não virá. Alguns países, como já ocorre hoje, impõe regulação ambiental. Quem não impõe acaba se beneficiando de preços mais baratos.
A saída para o imbróglio ambiental é necessariamente de mercado. Lâmpadas eficientes mais baratas, carro elétrico, energia renovável. Se um dos países muito poluidores avançassem na regulamentação desses produtos

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ativa x Concórdia para 21 a 25 de maio

A Ativa optou novamente por uma carteira defensiva para a semana: CPLE6, BVMF3, AMBV4, TOTS3 e TIMP3. É estranho a presença da Totus, uma presença já muito valorizada. Talvez os analistas antecipem alguma boa notícia para o papel. Também chama a atenção a BM&FBovespa, em pleno cenário baixista de nossos índices.
A Concórdia publica três carteiras. Na dividendos, BBAS3, TRPL4, AMBV4, GOAU4 e CESP6. Na Ibovespa, LREN3, ITUB4, GGBR4, PETR4 e VALE3. E na valor, POMO4, DTEX3, ALLL3, RAPT4 e HGTX3. Muitas ações fora de moda, ao meu ver, saudosistas dos anos passados. São carteiras sem criatividade, mas com fortes riscos. O peso da influência dos commodities é forte, mas sendo uma carteira semanal em dias de pessimismo parece questionável. A presença dos bancos, mesmo perante a cruzada de Dilma, é sorrateiramente curiosa. E a força da composição com ações do varejo, numa economia tão sem resposta como a de hoje, parece um desatino.
A carteira da Ativa parece mais madura.

Vendas do Tesouro Direto em abril de 2012

Sexta-feira a STN divulgou o resultado do Tesouro Direto. Não há novidades. A venda de títulos atrelados ao IPCA continua predominando, com 64,2% (em fevereiro era de 65,6%). E continua forte a preferência por títulos com prazos maiores de 5 anos, 56,8%, no mesmo patamar dos meses anteriores.
Títulos mais longos significam maior exposição ao risco. O título mais seguro, a LFT, não encanta o mercado. Isso significa que boa parte dos investidores do Tesouro Direto não buscam segurança, mas risco/rentabilidade. Não sei até que ponto eles realmente sabem o risco que estão correndo. Boa parte sabe, sem dúvida. As recompras são utilizadas por eles, que mudam suas carteiras conforme a conjuntura. Muitos não são investidores que casarão com esses ativos de longo prazo, parece. O volume de recompras correspondeu a 37,1% do volume de vendas.
De qualquer forma, cumpre adiantar que há pouco espaço para rentabilidades extraordinárias como a de 45,1% nos últimos 12 meses, da NTN-B Principal com vencimento em 15/05/2035. Os títulos de curto prazo já estão trabalhando com uma taxa de juros no patamar de 8,25% (LTN 010114, a 8,30% a.a.).
Quem quer especular com os títulos de longo prazo a dica é não perder de vista nossos dados internos. Inflação, para justificar maiores juros, já possuímos. Só falta nossos indicadores de produtividade industrial reagirem.

Juros e os cenários externo e interno

O  mercado testa o piso de 7,75 para os juros de janeiro de 2013, empurrado conjuntamente pelos cenários externo e interno. Semana passada esses dois agentes estiveram em sintonia, mas nada garante que continue assim nas próximas semanas. A volatilidade vinda dos mercados europeus só tende a aumentar à medida que os impasses políticos da zona do Euro ficam escancarados. E a recuperação brasileira, de vontade endógena, demora a chegar.
Mantega afirma, com recorrência, que temos mais ferramentas do que os países ricos. Em verdade, temos menor pressão fiscal, mas maior pressão inflacionária. São características de nossa economia, hoje. Sabendo dos riscos de uma estagflação no Brasil, é preciso cautela para apostar na tendência baixista dos juros, mesmo com cenários pessimistas no front externo e na produção interna.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ativa x XP x Gradual na carteira semanal

As corretoras levaram um olé do mercado essa semana. Todas retiraram PETR4 das sugestões e hoje a ação bombou com resultados muito acima do esperado. De qualquer forma acertaram no caráter defensivo das carteiras, centradas no desempenho do mercado interno. A XP sugeriu VIVT4, CPFL3, AMBV4, CTIP3 e UGPA3, uma carteira bem equilibrada. A Ativa AMBV4, LAME4, CPLE6, BVMF3 e BRML3, acertando muito bem nas Lojas Americanas, até agora. A carteira semanal da Gradual, sempre muito grande, veio de OIBR4, OHLB3, VALE5, BBAS3, ELPL4, TRPL4, CPLE6, SLED4, ITSA4, ETER3 e PSSA3. Parece ser uma carteira desatualizada e sem nexo com a conjuntura semanal.

Euro derretendo

Enfim, agora é pra valer. Se antes a saída da Grécia era a típica aposta de cara ou coroa, 50/50, agora o cenário é outro. Quando o próprio presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, admite a possibilidade da Grécia cair fora, para preservar a integridade do balanço contábil, quer dizer que a queda de braço política torceu o braço grego. Não parece em nada com uma ameaça, mas com um aviso de novos tempos e arranjos políticos frescos e inovadores.
A saída da Grécia ficou mais fácil de implementar do que sua permanência, ainda mais emergindo partidos marginais que por certo não apoiarão mais austeridade. Conhece-se, em algum grau, o preço da saída da Grécia, mas não se sabe o preço da continuidade de uma política econômica insana e desequilibrada.
Temos um mês até as eleições gregas, em 17 de junho. É o teste de fogo do euro, agora em 1.2717. É difícil imaginar qualquer ação que recupere a credibilidade da moeda europeia nesse próximo mês. Além disso, cedo ou tarde a paella vai estragar de vez e causar indigestão nos mercados. A Espanha tem se aproveitado do bode expiatório grego. Notícias positivas, no campo europeu, nos próximos meses, são pausas pro descanso da descida do morro EUR/USD.

terça-feira, 15 de maio de 2012

A influência dos modelos econômicos na análise política

Lee Sigelman e Robert Goldfarb, em artigo para o Journal of Economic Methodology, buscam analisar por meio de quais ferramentas a ciência econômica tornou-se tão influente na análise política. Sugerem que o caminho da influência se deu pela força das técnicas derivadas do modelo de escolhas racionais.
Até o final do século XX, argumentava-se que esse tipo de análise só valia para os norte-americanos, supostamente mais individualistas e utilitários que outros povos. Hoje em dia a análise se estendeu para todas as democracias. No Brasil demorou para se estabelecer, porém ninguém mais duvida de seu poder analítico.
O sucesso do modelo de escolhas racionais se deu, também, pela ausência de outros modelos. Com o fim de grande parte das experiências de socialismo real o horizonte encurtou. A político passou a se ocupar de assuntos do dia-a-dia, ao mesmo tempo em que os eleitores se educaram e se prepararam para as eleições democráticas. A história caminhou para um contexto em que tal modelo se tornou muito bom para prever resultados e orientar candidatos em suas campanhas. Os políticos podem ser construídos sob medida para atender classes e grupos de opinião.
Goste ou repudie, o modelo veio pra ficar. Ajuda a política e presta grandes contribuições à ciência. Por força das pesquisas de opinião, para subsidiar escolhas de campanha, temos conhecido um Brasil de brasileiros que não tinha sido captado pelos tradicionais ensaios acadêmicos, em geral de cunho marxista. Um país de valores conservadores mas que gosta de um Estado amplo e atuante. Um retrato jamais captado por intelectuais, porque enfurnados em seus escritórios não sabiam e não levavam a sério as opiniões do povão.

domingo, 13 de maio de 2012

Quem vencerá a Libertadores 2012?

O Sportingbet está com cotações abertas para o vencedor da Libertadores: Corínthians (4.70), Fluminense (4.70), Santos (4.70), Boca Juniors (6.00), Universidad de Chile (6.50), Vasco (11.00), Velez (11.00) e Libertad (17.00). Na minha opinião, as cotações estão muito espalhadas, distantes umas das outras. Os times são mais equilibrados na prática do mata-mata. Difícil crer que o Libertad tem quase 1/4 das chances do Fluminense, por exemplo. O mesmo vale para o Vasco, que é apenas ligeiramente inferior aos considerados favoritos. Estranha ainda mais se pensarmos que o time paraguaio joga contra o time chileno e um deles vai para as semi-finais com certeza.

sábado, 12 de maio de 2012

Ação ou aventura no forex?

Busque ação, evite aventura, poderíamos dizer. Não adianta investir num par de moedas sem ação. Por ação entendemos um mercado ativo, com grande volume movimentado e respostas claras a novos indicadores, pronunciamentos e fatos políticos. O mercado morno, onde não está ocorrendo a ação dos investidores, é ruim de trabalhar, porque as trajetórias de preços são mais arbitrárias. A arbitrariedade é péssima para o trader, pois cobra spreads e impõe jogo de loteria e não de inteligência. As apostas viram bingo, como se diz, uma aventura que se traduz em prejuízos no longo prazo.
A ação, no mês de maio, está em EUR/USD (25% das posições de traders) e AUD/USD (11,4%). São os pares que melhor respondem às andanças da crise europeia e mundial. A balança dos traders pende a favor da recuperação da economia e do preço das commodities. Difícil saber até que ponto o novo cenário europeu esquerdista já foi precificado.